domenica 18 gennaio 2015

Poemas depois do fim, Fernando Assis Pacheco


R., 1992

Quando os anos passarem
sobre esse teu desgosto
vais ver que te curaste
não de vez mas um pouco

pois o que a gente busca
nas dobras do amor
é a cura para a morte
que não tem consolo

e por falar em f'ridas
até as que mais foem
acabam por fechar
só ela vence o corpo



Sacado da Gasparina

Piangerò arderò canterò sempre*
como fazem as almas namoradas
sobretudo em verso e mais as castigadas
pelos demónios que transportam dentro

o amor toca a todas as espécies
mas à humana muito em particular
desde os primeiros bípedes do Afar
que supõe-se o enumeravam entre as febres

como ponta de cigarro no arvoredo
que se transforma logo em fogo basto
fica de ele passar só cinza mas
io d'arder amando non mi pento*


* Gaspara Stampa, Rime, 1554


Fernando Assis Pacheco (2003) Respiração Assistida, Lisboa: Assírio & Alvim, p. 23, 42.

Nessun commento:

Posta un commento