domenica 25 gennaio 2015

Para ninar o nosso naufrágio, Fabiano Calixto



Versos de circunstância

da noite mais azeda
do meio da treta 
do atrito gritando na greta 
do leblon
(brumas de avalon
na babylon de cabral, el cabrón)
um vândalo urra:
«i am the one
osgasmatron!»

na cidade de são paulo
(metrópole por um fio,
desactivada, reacionária & vil
abastada de grana & rivotril)
lemos todos (anotando)
uma escrota escritarada
serva, suja, súdita
que não diz nada
ossos do difícil ofício
de levar a vida
na base da porrada

pra desopilar a cuca
um café, umas tragadas
ventania & bem-te-vi
prosa minada
gargalhadas

dizem que com pelos
não pega nada
mas, se lisinha
é de morte a picada

aranha peluda
aranha pelada


Haicaizinho de estação

      no rádio velho, a baladinhs de James Blunt
que, quentinha, me fez lembrar
      que a saudade tem memória de elefante


Rock in Rio, 1985

     a vida pinga um colírio
no olho da gente 
     e vai embora


A METÁFORA
saiu de pink
com sua suástica de pelúcia
e foi comprar flores
na floricultura da Lúcia
(floricultura, I'll be there)

a metáfora
botou a pica
em cima da mesa
e disse:
«a morte da metáfora é uma metáfora, porra!»
(quatro vezes seguidas
com voz muito alta
balançando na mão esquerda
a orelha de Van Gogh)


O homem mais triste do mundo

(...)
3.1

o bacana é que a lágrima minha
na lágrima tua
deu um duo, mil suspiros de afeto
um núcleo puro - e duro
uma eternidade num minifuturo

e vai ficar pra gente
como o último abraço de uma avó

é, baby, no final das contas
acho que nunca é mesmo tarde
e que o sol não adivinha nada

cultivemos esse silêncio azul entre as estrelas
como se fosse nosso



Fabiano Calixto (2014) Equatorial, Lisboa: Tinta-da-China (p. 25-26, 36, 38, 67, 117), poemas originalmente publicados em Para ninar o nosso naufrágio (2013)

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