lunedì 17 novembre 2014

A casa mexia-se sozinha ao redor das mãos, de Rui Costa

A casa mexia-se sozinha ao redor das mãos.
Era fria, de malas vazias a remendar a base
e dissemos pedra sobre pedra sobre pedra.
morreram: os meus amigos vinham jantar
com a terra. E não havia nada para lhes dar
a não ser a máquina de erguer janelas rente
aos ombros. Aquecia-se água, descia junto à pele
o lume: apertando os ossos, imaginando o respirar
mais fino. As colheres eram pequenas fantasias
do sono, animais que abriam muito os olhos
o lume: apertando os ossos, imaginando o respirar
mais fino. As colheres eram pequenas fantasias
do sono, animais que abriam muito os olhos
o método da penumbra que escapara à melancolia aberta
por fora. Mas por fora já não havia nada:
e nós amámos a casa como um osso
no interior da
pedra.


Recolhido do artigo de Vera Vouga (2005). A NUVEM PRATEADA DAS PESSOAS GRAVES ou a existência de um chão que não precisa de voar. Revista da Faculdade de Letras — Línguas e Literaturas, II Série, vol. XXII, Porto, pp. 655-668 (http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4750.pdf).

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