O índio não percebe o cowboy e o cowboy não percebe a mãe. A
mãe do cowboy é católica, fala para dentro, tem dentes de cereja que as visitas
engolem com os olhos, como crianças tolas com as mãos todas que merecem. A mãe
é católica mas nunca se queixa porque gosta de índios e cowboys, propendendo
igualmente a um pequenino gozo com a incomodidade que o progresso recicla. Não
lava as mãos, coça a barriga, pensa noutra coisa quando lhe destróis o dia. A
mãe do índio grita mais ainda e eis que a lua começa. Do lado do sol, a mãe do
cowboy enche-se de esgrimas e reza com grinaldas nas orelhas entre veredas
finas. O amor da mãe pelo filho é uma luta entre o sol e a lua, com estepes ao
fundo onde esquecemos tudo o que passamos a vida a perder.
In O pequeno-almoço de Carla Bruni, Ayuntamiento de Punta
Umbría / Livrododia, 2008 – colección Palabra Ibérica. Recolhido do blog Poesia distribuída na rua., de Rui Almeida
(http://ruialme.blogspot.pt/2012/02/rui-costa-breve-esta-manha-comecei.html).
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